Programa Escolhas: Centro Jovem de Jovim - Estágio de Observação
- Diana Borges
- 15 de jul. de 2021
- 16 min de leitura
Introdução
Nesta etapa final da licenciatura em Ciências da Educação, no âmbito da unidade curricular de Seminário de Iniciação à Mediação e Formação: Projeto II. Com Seminário de Acompanhamento, que se encontra inserida no 6º semestre da licenciatura, foi solicitado aos alunos que desenvolvessem um relatório sobre a experiência profissional e os conhecimentos desenvolvidos.
A escolha do contexto dirigiu-se para um Centro Jovem, inserido num bairro problemático e abrangido pelo Programa Escolhas, o qual irei caracterizar mais a frente. A docente orientadora é a Professora Ariana Cosme, que me permitiu este Seminário de Acompanhamento num contexto completamente diferente do inserido no Projeto I. A escolha deste local foi feita em último recurso, após várias recusas por parte de instituições nas quais poderia inserir o meu primeiro projeto, mas que no fim se tornou tão enriquecedora como se estivesse inserida na minha primeira opção.
Com a elaboração deste relatório pretendo organizar e dar a conhecer as aprendizagens que esta experiência me proporcionou, sendo este estruturado em duas partes. Na primeira parte, referente ao capítulo 1 faço uma breve contextualização da instituição em que se realizou o estágio (Centro Jovem de Jovim – Programa Escolhas), na qual abordo apenas os aspetos que considero mais pertinentes para a compreensão de todo o relatório.
Quanto à segunda parte que se refere ao capítulo 2, exponho a problematização na qual está inserida o âmbito do projeto e as bases do seu desenvolvimento para no terceiro capitulo denominado Percursos / Procedimentos Metodológicos poder abordar essa mesma problemática expondo as medidas que são postas em ação de forma a colmatar a problemática.
Na quarta parte, apresento uma reflexão final sobre o papel dos mediadores socioeducativos e da formação em correlação com a problemática apresentada.
Contextualização
O centro jovem
O Centro Jovem de Jovim, mais concretamente o Centro Jovem Trás-da Serra sedeado no Conjunto Habitacional Trás-da- Serra, é uma instituição municipal de recursos e mediação social do Concelho de Gondomar. Trata-se em concreto de uma ludoteca, um espaço polivalente «intra e inter-geracional de educação não formal, onde se procura o desenvolvimento sociocomunitário, através da animação dos tempos livres, da dinamização de atividades culturais e sociais, de ações de formação» (Rede Social, 2006: 87, CMG: 2008) e ainda da interação com diversas instituições, tais como jardins-de-infância, escolas e associações locais
Nesta sequência, o Centro Lúdico reporta a uma instituição de «intervenção em diferentes valências junto de crianças, jovens e seus familiares, em áreas como: mediação na educação, saúde, vida cívica e familiar e educação parental» (Câmara Municipal de Gondomar, 2008).
Através da ludicidade, ou seja de atividades lúdico-pedagógicas, visa-se contribuir para a superação das dificuldades sentidas a nível do processo educativo e formativo. De igual modo aspira-se incentivar as crianças e os/as jovens a «pensarem, criarem e conhecerem o mundo e a cultura regional, nacional e mundial» (Rede Social, 2006: 87).
Desenvolveram-se, neste sentido, já dois projetos consecutivos, “Animar para Prevenir II” e “Animar para Capacitar”, no âmbito do Programa Escolhas, sendo que aquando da realização do estágio se desenvolveram atividades no âmbito do Programa Escolhas 3ª e 4ª Gerações, sendo que o meu estágio ocorreu já no âmbito do Programa Escolhas de 4ª Geração.
O Centro Lúdico Municipal funciona de segunda a sexta-feira das 9h30 às 12h30 e das 14h00 às 18h00, e sábados das 10h às 16h, em época escolar, sendo que o horário é adaptável às exigências e necessidades do contexto. Embora esteja principalmente direcionado para as faixas etárias da infância, adolescência e juventude, consiste num espaço aberto de frequência livre, sem limite de idades, que estipula apenas que menores de 6 anos de idade têm de ir acompanhados/as por uma pessoa maior de idade.
O regulamento – programas e projetos
As ações desenvolvidas durante o meu estágio enquadraram-se em dois projetos, um primeiro designado por “Animar para Prevenir II” e um segundo denominado por “Animar para Capacitar”, ambos inseridos no programa nacional Escolhas. Deste modo, a fim de melhor entender o seu desenvolvimento, interessa antes de mais fazer uma breve alusão ao programa Escolhas. No entanto, é imperativo salientar que os projetos “Animar” não se desenvolveram e desenvolvem isoladamente na freguesia de Jovim, mas em articulação com a freguesia São Pedro da Cova que analogamente apresenta uma população socialmente vulnerável.
Regulamento geral – programa escolhas
O Programa Escolhas é um programa de âmbito nacional, que visa promover a inclusão social de crianças e jovens provenientes de contextos sócio económicos mais vulneráveis, atribuindo principal atenção à igualdade de oportunidades e ao reforço da coesão social, particularmente no que concerne os/as descendentes de imigrantes e minorias étnicas.
Segundo a mesma resolução, o Escolhas surge enquanto programa de prevenção da criminalidade e inserção dos/as jovens (prioritariamente entre os 12 e 18 anos) dos distritos de Lisboa, Porto e Setúbal, que, potencialmente, devido à vivência «em contextos socioeconómicos desfavoráveis, associados a características pessoais negativas, resultantes de um processo de crescimento desajustado», (Resolução do Concelho de Ministros n.º4/2001) se encontram em risco de marginalidade e exclusão, daí ser originalmente intitulado por Escolhas – Programa de Prevenção da Criminalidade e Inserção dos Jovens dos Bairros mais Vulneráveis dos Distritos de Lisboa, Porto e Setúbal.
Defendendo que a inserção dos/as jovens é benéfica à erradicação da criminalidade, o Escolhas apresenta como objetivos prioritários:
Prevenir a criminalidade e inserir os/as jovens dos bairros mais vulneráveis dos respectivos distritos;
Formar a nível pessoal e social, escolar e profissional e ainda parental;
Dinamizar parcerias de serviços públicos e dos bairros com vista a incrementar áreas estratégicas de intervenção e mediação social, de ocupação de tempos livres e de participação comunitária;
Contribuir para a articulação de todas as entidades e ações que tenham como objeto a inserção juvenil;
Estabelecer uma articulação entre as suas ações e as comissões de proteção de menores, tal como outras entidades parceiras locais do programa.
No entanto, é através dos diferentes projetos, localmente planeados, que se dá vida ao programa Escolhas (Nunes, 2006). Se Ferrão (2000) refere que geralmente programas regionais adotam uma «organização de tipo arborescente (ou em cascata), que parte da identificação de objetivos gerais e de uma estratégia global para depois se desdobrar, sequencialmente, em objetivos específicos, subprogramas, medidas e ações/projetos» (Ferrão, 2000: 33), semelhante aplica-se ao Escolhas Consoante o que consta na Resolução do Conselho de Ministros n.º 63/2009 de 23 de Julho, o Programa Escolhas apresenta-se como um programa governamental que estabelece a mediação entre os objetivos gerais do Estado e as intervenções a nível local.
Deste modo o programa manifesta-se «enquanto Acão integrada em dois eixos prioritários das políticas do Governo: a igualdade de oportunidades e a coesão social» (RCM n.º 63/2009), significando a igualdade de oportunidades e a coesão social os objetivos gerais. A fim de os viabilizar são definidas áreas prioritárias em torno das quais posteriormente são delineadas as cinco áreas estratégicas, ou medidas.
Estas já se reportam especificamente ao Programa Escolhas que, por sua vez, se orienta por objetivos específicos referentes a resultados concretos esperados. A ação é desenvolvida no âmbito dos projetos, cujas candidaturas às diferentes medidas foram aprovadas.
Regulamento local – “animar para…”
A entidade promotora dos projetos “Animar” é a Câmara Municipal de Gondomar, sendo os recursos geridos pela Gondomar Cultural – Associação de Desenvolvimento Desportivo, Educativo de Gondomar. Segundo o Roteiro de Acão Social os projetos orientam-se por uma perspetiva sistemática dos indivíduos. Nesta lógica a Rede Social sustenta que
«Não se deve percecionar, diagnosticar e intervir com crianças e jovens sem perceber os múltiplos fatores inerentes às suas vidas, devendo por isso, a intervenção socioeducativa seguir uma lógica quadripartida (indivíduo, escola, família, grupo de pares), no sentido de, em complementaridade, se estruturar um projeto de intervenção coerente e adequado às realidades sentidas e vividas pelo grupo alvo» (Rede Social, 2006).
Adotando forma a partir dos problemas identificados no Diagnóstico Social de Gondomar com o know-how de projetos anteriores e inserindo-se no Programa Escolhas os projetos vigentes no Centro Lúdico Municipal destinam-se primordialmente à população dos Conjuntos Habitacionais mais afetados pela exclusão, ou seja Durão Barroso e Gandra. Neste âmbito as medidas e as ações estratégicas a que se candidatam, assim como as estratégias que apresentam para se concretizarem os objetivos delineados, estão direcionados para estes bairros, ainda que, na prática, abranjam toda a freguesia.
Os nomes “Animar para Prevenir II” e “Animar para Capacitar” traduzem sucintamente a prática e a finalidade primeira dos projetos. O verbo “animar”, que consta em ambos os projetos, revela a estratégia principal utilizada, ou seja a animação sociocultural através de atividades lúdico-pedagógicas, cuja vertente educativa visei potenciar. Nesta linha de ideias a distinção dos projetos torna-se visível logo a partir do título, enquanto o primeiro visa “apenas” promover a prevenção da ocorrência de diferentes fatores, o segundo não se contenta com a prevenção, já que pretende capacitar, também, os/as destinatários/as e beneficiários/as, no sentido de incentivar a sua resiliência e, consequentemente, o seu empowerment.
A equipa técnica
Por último, revela-se fundamental explicitar-se como foi/é constituída a equipa executiva multidisciplinar dos projetos Animar e do Centro Lúdico Municipal em geral.
Ambas as equipas do Animar são constituídas por uma Coordenadora, uma Animadora Sociocultural, um/a Monitor/a CID e ainda uma Técnica Superior, sendo que esta última no “Animar para Capacitar” é uma licenciada em Ciências da Educação. A equipa é mobilizada em ambos os espaços, consoante as necessidades.
Adicionalmente, no Animar para Capacitar, foi eleito na Assembleia de Jovens, encontrando-se empregado, um Dinamizador Comunitário que fortalece o elo entre os/as jovens, a comunidade, e a equipa.
Para além desta equipa intrínseca aos projetos, atuam ainda uma Assistente Social e duas assistentes operacionais. É de frisar, todavia que na prática não existe distinção entre a equipa do projeto e a equipa fixa. Partilhando o mesmo sonho, todos trabalham em grupo para os mesmos fins.
Problematização
Gondomar é o terceiro maior concelho da Área Metropolitana do Porto, situa-se num território em risco de exclusão infanto-juvenil de nível 2. Nas freguesias de Jovim e São Pedro da Cova o ensino secundário, não vai aquém dos 12,3% e 14,4% respetivamente.
O concelho tem uma taxa de analfabetismo situada nos 5,5%, o baixo nível de instrução da maior parte da população é mais evidente ainda na freguesia de São Pedro da Cova com 7,9% de analfabetos e na freguesia de Jovim com 6,3%. A taxa de pré-escolarização encontra-se nos 47,1%, a mais baixa dos municípios pertencentes à Área Metropolitana do Porto.
A análise do Programa DÁ – Direto Apoio, da Camara Municipal de Gondomar (que tem como principais objetivos a satisfação das necessidades básicas das famílias, em situação de grave carência económica, nomeadamente a nível alimentar, a promoção de medidas de inclusão social destas famílias, através da articulação dos recursos locais, de forma a agilizar e qualificar novas respostas sociais, e o acompanhamento das famílias, promovendo a avaliação semestral de todos os agregados familiares beneficiários do programa), permite verificar que São Pedro da Cova é a 3ª freguesia com maior expressão de beneficiários, tendencialmente do género feminino desempregado(a), em idade ativa e sem qualificações profissionais.
Ao longo dos últimos 3 anos foi verificado uma evolução crescente do número de beneficiários de Rendimento Social de Inserção. O projeto é entidade sinalizadora da CPCJ – Comissão de Proteção de Crianças e Jovens, no entanto e dadas as implicações no terreno, estas denúncias têm que ser feitas sob anonimato.
A incidência de casos de negligência destaca uma problemática que a curto, médio e longo prazo despoleta um conjunto de vulnerabilidades psicológicas, físicas e sociais e agrava as vivências destes indivíduos.
O reduzido número de casos sinalizados nesta freguesia pode revelar um acompanhamento de grande parte dos casos sinalizados através dos diferentes serviços, mas também um certo receio na sinalização dos casos detetados.
No Concelho de Gondomar, São Pedro da Cova apresenta-se como território prioritário de intervenção máxima, logo seguido de Jovim. São Pedro da Cova aparece como a freguesia com maior índice de experimentação de bebidas alcoólicas e drogas ilegais em Jovens que já se depararam com retenções escolares, problemas de comportamento, baixa autoestima, oriundas de famílias em situação de desemprego, mau relacionamento familiar e já se tinham envolvido em lutas na escola.
Em suma, podemos resumir a problemática a três grandes situações, o Insucesso Escolar, a Desintegração Escolar / Profissional e a Vulnerabilidade Social.
Percursos / Procedimentos Metodológicos
Tendo em conta que os projetos desenvolvidos no âmbito do Escolhas são trianuais, estando a ser desenvolvidos entre Janeiro de 2010 e Dezembro de 2012 os projetos no âmbito da 4ª geração do Escolhas, existem já três reformulações à resolução na qual foi criado o Programa Escolhas que alegam a respetiva renovação para cada novo triénio. Irei, no entanto, fazer referência apenas aos Despachos Normativos (DN) que são relevantes para os projetos em que participei e que integrei, nomeadamente o DN n.º 7/2006, de 10 de Agosto, e o DN 27/2009, de 6 de Agosto.
Animar para capacitar
O projeto “Animar para Capacitar”, a desenvolver-se entre Janeiro de 2010 e Dezembro de 2012 representa a continuação do projeto anterior “Animar para Prevenir II” e o avanço para novas medidas e ações. Insere-se na 4ª geração do Programa Escolhas, subintitulado de “Uma escolha com futuro”. Prevenir II” e o avanço para novas medidas e ações. Insere-se na 4ª geração do Programa Escolhas, subintitulado de “Uma escolha com futuro”, e Visto sendo geração do programa na qual está inserido o meu estágio, optei por aprofundá-la particularmente.
Em conformidade com o projeto anterior o projeto apresenta três objetivos gerais em torno dos quais são definidos os objetivos específicos e para os quais são decididos indicadores. São referidos como objetivos gerais:
«Contribuir para a inclusão escolar e educação não-formal das crianças e jovens oriundos dos bairros da Gandra, Durão Barroso e Trás-da-Serra»;
«Contribuir para a formação profissional e empregabilidade dos [/as] jovens oriundos [/as] dos mesmos bairros»;
«Envolver, responsabilizar e capacitar os [/as] jovens dos bairros referidos» (CMG, 2009: 17-28).
Com a entrada em vigor da RCM n.º 63/2009 de 23 de Julho, o Escolhas, em complementaridade às áreas estratégicas de intervenção já estipuladas, passa a incorporar uma nova área estratégica de intervenção – Empreendedorismo e capacitação. Nesta linha de pensamento o “Animar para Capacitar” candidatou se e atua a nível das então cinco áreas estratégicas, a relembrar
Inclusão escolar e educação não-formal;
Formação profissional e empregabilidade;
Dinamização comunitária e cidadania;
Inclusão digital; e
Empreendedorismo e capacitação (DN n.º 27/2009, art. 2º, n.º 2; CMG, 2009: 20-28).
As ações admitidas em cada área encontram-se enunciadas seguidamente, sendo que me limito a citar do DN n.º 27/2009 aquelas que são inerentes ao “Animar para Capacitar”.
Medida I – inclusão escolar e educação não-formal
No âmbito da inclusão escolar e da educação não-formal o “Animar para Capacitar” adotou as ações:
«b) Criação e implementação de respostas educativas específicas para crianças e jovens que tenham abandonado a escola sem a conclusão da escolaridade básica»; e «c) Atividades de prevenção do abandono escolar e de promoção do sucesso escolar, a realizar dentro ou fora da escola, através do desenvolvimento de competências pessoais, escolares e sociais por via da educação formal e não formal» (DN n.º 27/2009, art. 3, nº 2).
Destacaram-se a continuação dos CEF (Curso de Educação e Formação de Jovens) e PIEF (Programa Integrado de Educação e Formação) e o Clube do Saber, sendo que se visava, também, a criação de mais CEFs. Decorreram ainda negociações com as escolas, a fim de se delinear uma intervenção direta da equipa no contexto escolar, tanto com as turmas mais problemáticas, como com os pais e as mães.
Em simultâneo a equipa realça junto dos/as jovens e das crianças, através de conversas informais, a importância que a Escola e a formação desempenham a nível social, a fim de os/as consciencializar. Enfatizam-se os sucessos individuais relatados e procuram-se respostas a dificuldades escolares identificadas. A negociação com os/as jovens na implementação de respostas educativas específicas revela-se deveras significante, tanto a nível da corresponsabilização como da capacitação.
Medida II – formação profissional e empregabilidade
Desenvolvem-se neste contexto atividades que se orientam para «a) Encaminhamento e integração de jovens para respostas de qualificação ao nível da formação profissional»; e «e) Apoio à criação de iniciativas que gerem emprego para jovens, nomeadamente através de Emprego Apoiado, Iniciativas Locais de Emprego, microempresas ou outras» (DN n.º 27/2009, art. 3, nº 3).
No que diz respeito à formação profissional, visa-se encaminhar jovens dos 14 aos 24 anos para a formação profissional.
Já no que concerne à empregabilidade, projeta-se a criação de uma empresa de prestação de serviços, a passagem da Loja Social a Hipermercado Social, autogerido pelos/as destinatários/as e o incentivo ao desenvolvimento de iniciativas locais de emprego.
Estabeleceram também uma parceria informal com o GIP para se agilizar a divulgação de ofertas de emprego e de formação e o encaminhamento dos/as jovens interessados/as.
Medida III – dinamização comunitária e cidadania
As atividades que reportam a esta medida orientam-se pelo desenvolvimento de: «a) atividades lúdico-pedagógicas, nomeadamente as que decorrem em espaços jovens e similares» (DN n.º 27/2009, art. 3, nº 4).
Desenvolveram, neste sentido, as mais variadas oficinas de expressão plástica, se possível inovadoras para quem nelas participa. Contextualizam-se aqui ainda todo o tipo de atividades lúdico-pedagógicas que decorrem no “Animar para Capacitar”, uma vez que lhes são incutidas, pelos/as técnicos/as e monitores/as, componentes educativas e de responsabilização. O objetivo é contribuir para a inclusão integral dos/as frequentadores/as na sociedade, uma vez que estes/as ao serem cidadãos/cidadãs possuem o estatuto de igualdade natural e legal, como também em respeito, direitos e deveres.
Medida IV – inclusão digital
As ações apresentadas para a promoção da inclusão digital no âmbito do projeto são: «a) atividades ocupacionais de orientação livre»; «c) Cursos de iniciação [TIC - Tecnologias da Informação e da Comunicação]; d) Formação certificada em [TIC]»; e «e) atividades de promoção do sucesso escolar e da empregabilidade» (DN n.º 27/2009, art. 3, nº 5).
Por um lado, aplicam-se as atividades correspondentes à medida IV do “Animar para Prevenir II”, tendo sido desenvolvidas em Janeiro e Fevereiro cursos de literacia digital e DCB (diploma de competências básicas).
Por outro lado, introduz-se o acesso à Escola Virtual que visa em simultâneo servir de apoio escolar complementar ao Clube do Saber. O apoio na produção de documentos (textos para as páginas do projeto e pessoal, currículos e cartas de apresentação) e na procura de emprego on-line sustentam o apoio à empregabilidade e promovem a capacitação digital.
Medida V – empreendedorismo e capacitação
As ações contempladas pelo projeto desta medida são: «d) Visitas, estágios e parcerias com organizações que possibilitem o alargar das experiências e redes de contactos dos jovens; e) Projetos planeados, implementados e avaliados pelos jovens, promovendo a sua participação e corresponsabilização por todas as etapas, nomeadamente na mobilização parcial dos recursos necessários à concretização das suas iniciativas»; e «h) Campanhas de divulgação, marketing social e de sensibilização que permitam desconstruir estereótipos e preconceitos relativamente aos destinatários e territórios alvo de intervenção do Programa» (DN n.º 27/2009, art. 3, nº 6).
Embora este projeto preveja a realização de visitas e intercâmbios interculturais, a promoção do voluntariado jovem e o desenvolvimento de projetos jovens, tal como a realização de campanhas de marketing social, processos de autoavaliação e ações de formação para a comunidade educativa, formalmente a única atividade a ser desenvolvida neste contexto foram as ações de formação, concretamente a dinamização de uma ação de formação sobre o software do Magalhães e as potencialidades de monitorização que lhe são inerentes, e uma mensagem circular no âmbito dos projetos de marketing social.
Em simultâneo não se deve menosprezar todo o trabalho prévio que é desenvolvido a nível não-formal e informal e que incentiva a participação e desenvolve o sentido de responsabilização. Através da corresponsabilização atribuída aos/às jovens pela dinamização de diferentes oficinas e clubes, entre outros, estes/as passam a observar as suas competências de conceção, planificação e execução e a tomar consciência sobre possibilidades inerentes a seus atos e das consequências (positivas e negativas) que os mesmos podem acarretar. Se, por exemplo, um/a jovem está responsável por trazer um filme para se exibir no Clube do Cinema e não o faz ou propõe apenas filmes que não são adequados à idade dos/as espectadores/as, o Clube do Cinema não se realiza.
Se, por outro lado, um/a jovem se empenha no Clube de Culinária e semanalmente consegue confecionar produtos que o/a satisfaçam e sejam alvo de feedback positivo, ele/a sente-se motivado/a e mais facilmente sugerirá um projeto no âmbito da culinária
O meu estágio no Centro Jovem de Jovim ocorreu num espaço temporal de finalização, impregnado de desânimo por parte de alguns técnicos e de esforço contínuo por parte de outros, de forma a provarem que este é um projeto no qual se entregam de corpo e alma independentemente do seu fim eminente.
No meio destas indefinidas definições, conhecendo minimamente a problemática subjacente aos projetos, através de uma análise documental referente ao contexto, e de diálogo com alguns dos técnicos com os quais tive ligação direta, vi-me compelida a definir o meu pepel. A questão basilar foi: Hei-de manter uma postura meramente de observação, ou hei-de integrar o projeto, contribuindo com os meus conhecimentos a nível das Ciências da Educação para a continuidade do trabalho e ao mesmo tempo para uma aprendizagem pessoal e profissional da minha parte? Optei pela segunda vertente, integrando-me na equipa e constituindo um recurso integral, embora temporário.
Posto isto, a minha intervenção no espaço do Centro Jovem caracteriza-se pela polivalência e pelo trabalho com diferentes populações (crianças, adolescentes, jovens, adultos). Visto o meu estágio se resumir a um sábado semanal não me foi possível participar em todas as atividades desenvolvidas pelo Centro Jovem, mas nas que pude participar (conversas informais, diversas atividades lúdico-pedagógicas, grupo de Dança, Clube do Saber, Escola Virtual, Assembleia de Jovens, Aulas de Informática e Clube do Cinema) por decisões tomadas em conjunto e com propostas próprias.
É de frisar que, apesar de este não ser o contexto do meu primeiro projeto (Saúde Mental) apostei, na instituição, no desenvolvimento de uma relação pessoal que legitimasse a minha presença naquele espaço, pelo que os meses de Abril, Maio e Junho foram meses que investi na prossecução desse propósito.
Reflexão Final
Existe um conjunto de contextos e situações nas quais se revela pertinente intervir um/a profissional das Ciências da Educação, mesmo que essa intervenção ocorra conjuntamente com outros profissionais. Por isso, um/a profissional de Ciências da Educação não se define em função do local onde intervém ou o que faz, mas em função da forma como intervém e quais os procedimentos que adota.
O meu trabalho, enquanto profissional de Ciências da Educação, no Centro Jovem de Jovim, caracterizou-se, acima de tudo, pela polivalência, não ficando circunscrito a uma tarefa ou um conjunto de tarefas especificamente e exclusivamente atribuídas ao/à profissional de Ciências de Educação.
Foram o incentivo à participação e o trabalho continuamente refletido em conjunto, tanto entre equipa, como com os utentes, que se constituíram como fatores essenciais da configuração do estágio que beneficiei.
Penso que o/a profissional das Ciências da Educação possuiu um conjunto de competências que permite reconhecer e valorizar competências em cada sujeito.
Através de métodos etnográficos este/a profissional revela uma sensibilidade acentuada de acesso a um conjunto de informações que permitem a valorização dos sujeitos e o aumento da sua autoestima, contribuindo deste modo para a sua revelação, por exemplo, através da ludicidade, bem como a troca de experiências e conhecimentos, em atividades lúdico-pedagógicas.
Assim sendo os/as profissionais nesta área possuem um conjunto de ferramentas que utilizam de forma muito peculiar e que possibilitam agarrar situações quotidianas, fomentando as potencialidades educativas latentes nessas situações que surgem e ocorrem, por vezes, de forma espontânea e esporádica.
É a partir da ludicidade nelas contidas, aferidas através de um olhar atento e a escuta ativa, que se parte para a intervenção socioeducativa, visando a capacitação para o empowerment, logo a inclusão social.
A minha intervenção, enquanto profissional das Ciências da Educação, inseriu-se no quotidiano dos projetos e do funcionamento do Centro Jovem, o que fez com que os/as jovens tivessem aderido de forma plena às atividades propostas.
Para isso foi impreterível que estabelecesse uma relação dialéctica de comunicação numa relação de “proximidade distanciada” com os/as jovens, ou seja uma relação pessoal que fosse permanentemente refletida através de técnicas que permitissem um distanciamento analítico das situações vivenciadas, das informações obtidas, da própria postura, possibilitando, ainda, uma avaliação on-going.
São a postura e as atitudes manifestas pelo/a Animador/a Socioeducativo/a e da Formação que agilizam a intervenção socioeducativa a nível não-formal em contexto de lazer. Assim o trabalho interventivo definiu-se em torno de quatro pontos centrais que estão intimamente inter-relacionados, a relembrar:
A capacitação e desenvolvimento de competências (pessoais e sociais) dos/as jovens; A relação de comunicação e de confiança; A centralidade do grupo alvo específico, ao longo de todo o processo de intervenção; A reflexão contínua na e sobre a ação.
Tendo apostado na participação ativa mas voluntária, tendo em conta a natureza do contexto de estágio, esta revelou-se deveras oscilante o que interferiu na ambicionada autogestão das atividades pelos/as jovens. No entanto os/as jovens foram fiéis às suas responsabilidades, quando estas partiam deles, como é o caso do Clube do Cinema e de Culinária.
Tendo em conta a reflexão desenvolvida, partilho a opinião de que a solução dos problemas (em educação) deve passar pela saída dos profissionais dos gabinetes ou, então, a integração dos gabinetes em meios sociais vulneráveis, pois de outra forma a sua intervenção só com muita sorte será adequada ao contexto específico e será significativa para a população que lhe dará continuidade ou a rejeitará após o término da intervenção.
Neste âmbito os contributos dos/as profissionais das CE, constituem elementos catalisadores a nível da participação, reflexão, avaliação e ainda mediação, que promovem um trabalho “com” e não “sobre” as populações destinatárias.
Penso ser importante referir que este estágio me proporcionou a possibilidade de aquisição de novos conhecimentos, assim como o aprofundamento de alguns que já possuía, através da possibilidade de comparência em palestras, organizados pela Câmara Municipal de Gondomar em Parceria com a CPCJ de Gondomar.
Foram abordados temas como os “Maus Tratos a Crianças e Jovens”, a “ Lei Tutelar Educativa”, a “Mediação de Conflitos” e a última que compareci abordava o tema da “Audição da Criança”.
Discente: Diana Borges
Docentes: Ariana Cosme (Orientadora de Estágio) - FPCEUP
Unidade Curricular: Seminário de Iniciação à Mediação e Formação: projecto II. Com Seminário de Acompanhamento

Comments