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Percursos e Cognições no Campo da Formação

  • Foto do escritor: Diana Borges
    Diana Borges
  • 13 de jul. de 2021
  • 9 min de leitura

Atualizado: 14 de jul. de 2021

Introdução

No âmbito da unidade curricular de Percursos e Cognições no Campo da Formação, orientada pelos professores Fátima Pereira e Teresa Medina, presente no 6º semestre da Licenciatura em Ciências da Educação, tenho como ponto de avaliação a realização de uma síntese teórica com vista a refletir sobre os conteúdos lecionados ao longo da unidade curricular, em particular sobre aqueles que são alvo de reflexão.

Assim sendo, começarei por fazer uma reflexão acerca de um modo de formação baseado nos Escritos de Trabalho e de Formação, terminando com a minha opinião pessoal acerca deste modo de formação.


De seguida farei a análise dos procedimentos de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências no âmbito da epistemologia da observação e da epistemologia da escuta, tendo em conta a leitura de dois textos que fazem uma abordagem a este assunto.

Por fim, farei uma reflexão final geral acerca de todos os conteúdos abordados ao longo da unidade curricular, nomeadamente, sobre os diferentes modos de formação e qual a minha opinião sobre estes, e para colmatar, uma pequena conclusão que dará conta da importância da unidade curricular no âmbito desta licenciatura e uma breve opinião pessoal acerca de todo o trabalho desenvolvido.


Escritos de Trabalho e da Formação

É possível definir os escritos de trabalho como algo que se relaciona com a construção da nossa própria identidade aos mais variados níveis (pessoal, profissional, social) tendo sempre presente a ideia do quotidiano vivido.

No que diz respeito à escrita sobre o trabalho, por exemplo, é possível verificar transformações no que diz respeito às interações que vão surgindo entre os próprios trabalhadores, como também, pode ir de encontro a alguma mudança no próprio exercício do trabalho. É através destes escritos que se pretende descobrir vertentes que até então eram ocultas, possibilitando aos trabalhadores perceber aquilo que está subjacente às suas ações, sendo possível identificar problemas (que podem estar na origem do próprio trabalho), mas também, dúvidas e desafios subjacentes a este.


De certa forma, os escritos de trabalho estão simultaneamente relacionados com a formação como também com questões de carácter político e social, abrangendo aspetos relacionados com vivências sociais (ao nível do vivido pessoal e social), sendo a escrita sobre o trabalho valorizada, uma vez que lhe dá evidência. De uma forma geral, dá um outro sentido à escrita pois permite uma maior dinâmica interacional a nível da comunicação, isto porque possibilita diferentes interpretações.

Esta deve “assumir” uma postura íntima com características próprias, de modo a dar sentido e estrutura ao próprio trabalho. Por outro lado, deve apresentar ideias próprias e centrar-se numa escrita única e com especificidades, refletindo sempre algo, uma vez que é um meio de produção de conhecimento que fortalece a reflexão retrospetiva.


Relativamente à importância destes escritos, considero que é um forte elemento promotor de mudança, como também transformador das relações que se estabelecem no trabalho. Para além disso, permite refletir sobre a prática que está a ser exercida, inovando-a, como também, construir novas aprendizagens, no sentido em que o trabalho pode ser visto como objeto de pensamento.

Neste sentido, os escritos de trabalho permitem uma nova construção da identidade de cada sujeito, fazendo-os repensar sobre as práticas de trabalho. Dá-se, também, a construção de novos significados sobre a ação e sobre a prática profissional, como também, um crescimento evolutivo do conhecimento pessoal e profissional de cada trabalhador, possibilitando a emergência de novos modos de trabalho.


Paralelamente a isto, surgem as contradições e os aspetos menos positivos deste método formativo que diz respeito às dificuldades que podem ser sentidas na escrita sobre o trabalho, e neste sentido é possível falar-se sobre as questões da privacidade, uma vez que este tipo de trabalho vai ser exposto ao nível do juízo cultural do próprio grupo, mas também da sociedade, dificultando a legitimidade da própria escrita através da inexistência de palavras próprias para se falar sobre o trabalho real, uma vez que o sujeito tem receio em se expor.


Em suma, apesar de os escritos apresentarem características positivas ao nível da mudança e da construção social da própria identidade e do próprio “eu”, por outro lado, apresenta também aspetos menos positivos, uma vez que não permite que o próprio sujeito seja livre de escrever “aquilo que lhe vai na alma”.


RVCC – Entre a Epistemologia da Observação e a Epistemologia da Escuta

«A vida é reconhecida como um contexto de aprendizagem e de desenvolvimento de competências, e cada vez mais se valorizam os saberes e as competências adquiridas (…). A experiência é considerada como uma fonte legítima de saber, que pode (e deve) ser formalizado e validado» (Pires, 2007: 8).

A questão do reconhecimento, validação e certificação de competências, desde há algum tempo que é motivo de estudo e consequente reflexão. Neste sentido, a reflexão que se segue, visa a análise dos procedimentos utilizados nestes processos de RVCC, à luz de duas epistemologias fortemente marcadas neste sentido, que poderão ajudar a compreender melhor este processo. São as designadas, epistemologia da observação e epistemologia da escuta.


Com o desenvolvimento da sociedade contemporânea e consequentemente de tudo o que a ela está ligada, começa a manifestar-se importante, no discurso político, preocupações ao nível económico, social e educativo que visam o desenvolvimento de iniciativas com a finalidade de reconhecer e validar as aprendizagens adquiridas pelos sujeitos ao longo da vida e nos mais diversos contextos.

Sendo neste âmbito que a Aprendizagem ao Longo da Vida ganha relevância a partir do reconhecimento e da validação das aprendizagens que as pessoas vão realizando ao longo da sua trajetória de vida, nomeadamente, a nível pessoal, social e profissional, procurando assim, identificar e dar visibilidade às aprendizagens realizadas em contextos não-formais e informais de educação/formação, decorrentes de ações desenvolvidas em contextos de trabalho, ou em situações amplas da vida que normalmente não são reconhecidas (Pires, 2007).


Neste sentido, a experiência pode então afirmar-se como

«(…) um elemento-chave no processo de aprendizagem, constituindo a base para a reflexão, problematização e formação de conceitos, e que contribui para a transformação da pessoa, em termos pessoais e identitários, promovendo a sua emancipação» (Pires, 2007: 10).

No entanto, nesta perspetiva de reconhecimento e de validação de competências, há que mencionar dois grandes pressupostos que estão intimamente relacionados com esta questão: a epistemologia decorrente da observação e a epistemologia decorrente da escuta.


Pode-se afirmar de forma sucinta, que ambas podem estar relacionadas com estes processos de RVCC e em muito estão ligadas à forma como os sujeitos (formadores e formandos) percecionam este mesmo processo. No âmbito da epistemologia da observação é possível afirmar-se que a formação é vista como algo em que previamente eram assinaladas as necessidades e as carências dos formandos, para com base nestas, os formadores elaborarem uma formação de carácter objetivista, sendo estes quem detêm o poder de decidir qual a trajetória da formação dos formandos, proporcionando em muitas situações, o não encontro de sentido nas atividades que lhes são propostas

«(…) as atividades de motivação procuram promover o envolvimento dos formandos numa atividade cujo sentido lhes escapa já que a instituição formadora, embora lhes atribua um desejo de saber, raramente reconhece que esse desejo de saber e também um saber sobre o desejo e um saber sobre os instrumentos e as situações que permitem a sua satisfação» (Correia, 1998: 145).

Por outro lado, no âmbito da epistemologia da escuta, verifica-se uma rutura entre o registo e a observação prévia dos saberes experienciais, sendo as experiências o núcleo estruturador da formação, pois é através destas que se valoriza o reconhecimento dos saberes, uma vez que

«(…) o trabalho de formação procura induzir situações onde os indivíduos se reconheçam nos seus saberes e sejam capazes de incorporar no seu património experiencial os próprios saberes produzidos pelas experiências de formação» (Correia, 1998: 145).

Aqui, o formador já não está em primeiro plano, mas sim, o formando, na medida em que é este que é participativo e produtor da sua própria formação. De acordo com Pires (2007), um dos pressupostos de base deste processo de reconhecimento e validação de competências, diz respeito ao facto de as aprendizagens detidas deverem

«(…) ser consideradas como ponto de partida e em articulação com as aprendizagens posteriores, numa perspetiva de recomposição» , de modo a que o património experiencial e cognitivo interajam e combinem elementos, que não conduzindo «(…) necessariamente à substituição dos antigos, (…) pode permitir enriquecer e diversificar o elenco de combinações suscetíveis de se estabelecerem entre os elementos disponíveis» (Correia, 1998: 146),

ou seja, os novos elementos não vão eliminar nem substituir os antigos, pelo contrário, podem enriquecê-los.

Na lógica do texto escrito por Ana Luísa Pires, considero que a abordagem feita aos procedimentos de reconhecimento e validação de competências estão ligados a uma epistemologia da escuta, na medida em que são as experiências dos sujeitos, elaboradas pelos seus próprios saberes e competências, que permitem que o formador os oriente de forma a progredirem a partir dos seus próprios recursos (Pires, 2007).


«A escolha das abordagens depende da natureza do pedido, da motivação da pessoa, e do resultado a atingir. Por princípio, deverá ser sempre uma decisão negociada entre a pessoa implicada e o conselheiro [formador], considerando que a pessoa é a ‘autora’ da sua própria história e da sua trajectória formativa, e como tal dever-lhe-á ser atribuído um papel central na escolha dos meios e na forma de explicitação das suas aprendizagens» (Pires, 2007: 14).

Em suma, é importante que estes profissionais tenham a capacidade de fazer transpor um discurso de ordem pessoal para um discurso de ordem social e profissional. O papel que desempenham não se deve cingir à aplicação de técnicas e de instrumentos de avaliação, mas sim, devem ser capazes de desempenhar neste processo, um papel mediador, formativo e mobilizador de autonomia e de novas dinâmicas de aprendizagem, devendo ser possuidores de qualidades humanas, mas mais importante ainda, devendo ter a capacidade de escutar e de valorizar o outro, uma vez que nesta conceção, é o formando quem tem o papel principal (Pires, 2007).


Método autobiográfico e da Formação

O segundo modo de formação diz respeito ao método autobiográfico e de formação, referindo-se as narrativas biográficas como essenciais neste modo de formação. De forma geral, este apresenta como principais características o respeito pelas pessoas de modo a que a sua especificidade seja reconhecida; o facto de cada sujeito identificar a sua própria história de vida e os elementos que mais impacto tiveram, de modo a que se compreenda como é que os elementos formadores se revelaram importantes neste processo.


Neste tipo de narrativa biográfica e de formação estão em causa todos os contextos e não apenas os profissionais, havendo um situamento do autor da própria narrativa na relação que estabelece com o saber, dando visibilidade às aprendizagens realizadas. Considero este método bastante adequado do ponto de vista da formação, uma vez que nos possibilita abranger um vasto campo de experiências e não apenas as que estão relacionadas com o contexto profissional. É algo que nos permite estabelecer uma melhor relação com o outro, transformando-nos enquanto pessoas, mas também, nos faz adquirir novas aprendizagens, levando-nos à construção de novos projetos e também de um novo “eu”.


Trajetória Biográfica e de Formação

Este modo de formação apresenta-se como muito idêntico ao anterior, no entanto neste, o essencial é a trajetória biográfica e de formação que é feita pela pessoa. Neste tipo de método, o importante é realçar determinados aspetos das situações vividas, dando-se relevância às situações densas do ponto de vista formativo; aos atores intervenientes no sistema de relações que se estabeleceram; às situações que antecederam e que precederam a formação; os efeitos que essa formação teve na produção de projetos individuais e grupais, e por fim, os tipos de saberes produzidos por cada um.


Considero este método bastante semelhante ao anterior, no entanto, apresenta especificidades próprias que fazem com que a narrativa seja abordada de uma forma mais aprofundada, realçando-se determinados aspetos, que na própria escrita da narrativa, não eram tidos em conta.


Conclusão

Em termos gerais considero que esta unidade curricular se revelou importante na medida em que nos possibilitou ter um maior contacto com diferentes modos de adquirir formação. O próprio nome da unidade curricular, Percursos e Cognições no Campo da Formação evidencia isso mesmo, ou seja, a “caminhada” que o sujeito necessita de fazer para adquirir a formação que pretende.


É claro que as próprias cognições estão implícitas em si e naquilo que vai fazer ao longo do processo formativo, uma vez que as aprendizagens, os conhecimentos e os saberes que possuí, se revelam como uma mais-valia neste processo de formação. Ou seja, é o percurso que faz e as aprendizagens (cognições) de que é detentor, que o vão fazer adquirir a formação que pretende no campo escolhido.


Em suma, e realçando os diferentes modos de formação abordados, considero que todos eles se revelaram pertinentes e importantes neste âmbito, uma vez que cada um possui diferentes perspetivas e características de adquirir formação.

Na minha opinião pessoal, considero que todos se revelaram importantes para mim, cada um à sua maneira, exatamente pela especificidade de cada um conter algo que me chama particularmente à atenção.


Nos escritos de trabalho, na medida em que se relacionam com a construção da própria identidade; na narrativa e na trajetória biográfica e de formação porque possibilita evidenciar os conhecimentos e os saberes adquiridos, através de um texto escrito que contem a especificidade própria de quem o escreve, e por fim, as abordagens referentes às epistemologias da observação e da escuta no âmbito dos processos RVCC, com o principal objetivo de se perceber a importância que é dada ao próprio sujeito no decorrer da sua formação.



 
 
 

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